Escrito por Maikel
Monteiro, chapecoense conta como passou de fã a “filho” da dupla caipira
Com a euforia de um fã que fala com seu ídolo, o garoto de 12
anos destrinchou naquela ligação a cobrar de uma velha cabine telefônica do
centro de Chapecó a sua admiração pelas irmãs Galvão. De tanto escutar os
discos da dupla, Maike Monteiro tinha certeza que aquele alô era da própria
Marilene, e em dez minutos de prosa não hesitou em dizer que apesar da pouca
idade era um admirador ferrenho da dupla de moda caipira. Os amigos, todos
sessentões, fizeram pouco caso da conversa do guri que gritou aos quatro ventos
que havia falado com a cantora. Só vieram a crer após as ligações virarem
mensais e pagas minuto a minuto da mesma cabine. A paixão de Maike pelas
irmãs Galvão vem mesclada da nostalgia de uma infância simples no Bairro Santa
Maria e de cuias de chimarrão compartilhadas nas manhãs cedinho com o avô
Arlindo Schwarz. Não que precisasse
levantar antes das 6h por aqueles dias. Mas as ondas do rádio lhe convidavam a
deixar a cama e ouvir as histórias simples cantadas há 40 anos. O gosto virou fixação e a energia juvenil foi canalizada em idas
à biblioteca e à Rádio Chapecó para estudar a música caipira como um doutorando
se debruça sob sua tese. O hábito lhe rendeu um espaço como comentarista na emissora e
lhe encheu o peito para com ousadia tentar no disk telefone, 109, o contato da
dupla, cuja voz e acordes lhe fascinavam. Então ligou. “Naquele tempo era tudo mais fácil. Liguei e pedi o
telefone da Marilene Galvão. Disse que ela morava em São Paulo. Foi um chute.
Eu não sabia. Mas, como os artistas moravam todos por lá, achei que seria. Ela
me passou um telefone e eu liguei a cobrar mesmo. E deu certo. Marilene me
atendeu e eu falei que era muito fã dela. Ela ficou feliz e me passou o
telefone da irmã, a Meire, mas ela não me tratou da mesma forma. Até cogitei a
virar fã de apenas uma”, lembra Maike, sentado em uma cadeira na redação do VOZ e
segurando em mãos um exemplar do livro que lançará neste sábado (15) em Chapecó
sobre os 70 anos da dupla feminina.
Aproximação
A ligação feita aos 12 anos não foi a única do radialista mirim.
Apesar da rispidez com que Meire lhe tratou, incrédula sobre um adolescente se
declarar fã em uma época em que a mocidade se voltava a Xitãozinho e Xororó,
Maike insistiu. Não voltou a ligar a cobrar até a terceira vez. Mas guardava os
vinténs para todo mês fazer ligações de dez minutos cada para cada uma das
irmãs. “Eu não entendia o porquê ela me tratava mal. Mas quando liguei
a terceira vez ela disse: ‘Olha, você liga todo o mês e eu não consigo
entender. Eu te trato mal e você continua insistindo. O que é que você entende
das coisas?’ Passei a falar sobre os discos e mostrei o que sabia. Ela então
amoleceu e a partir daí disse que eu poderia ligar até a cobrar quando
quisesse”. Foram três anos mantendo contato por telefone com as irmãs
Galvão, criando uma ponte entre Chapecó e São Paulo que foi fortalecida em
janeiro de 1996, aos 15 anos, quando a dupla lhe perguntou se tinha algum
parente na capital paulista. Pedido que não veio à toa, as irmãs queriam pagar
uma passagem de ida e volta para o adolescente conhecer As Galvão. A sorte de Maike era ter um tio em São Paulo que o abrigou por
uma semana. Melhor dia o adolescente não sabia se já tinha tido: estava em
frente à dupla amada se deleitando no sonho de mirar fundo dos olhos das
mulheres cuja história e voz lhe encantavam.
Acervo
Maikel nunca deixou de apreciar a música caipira e admirar o
trabalho das irmãs Galvão. Dentro de um gênero em que o machismo imperava, ele
via na dupla mulheres à frente do seu tempo que sabiam se impor diante dos
desafios que a carreira proporcionava às mulheres. Se de um lado o próprio estilo musical era afetado, segundo
Maikel, pela imagem que Monteiro Lobato criou do caipira com o personagem Jeca
Tatu, ridicularizando aquele que vem da roça, mulheres tinham a carreira
interrompida por relações ciumentas e casamentos. Há mais de 20 anos pesquisando o gênero, Maikel disse que isso
só não aconteceu com as irmãs Galvão pela sua insistência em se dedicar à
paixão mor. “Elas chegaram a se relacionar com pessoas que disseram: ‘Agora
você tem uma família, precisa deixar a música de lado para se dedicar a casa’.
Mas, quando ouviram isso falaram: ‘Então, quem vai embora é você’. E terminavam
o relacionamento. E era um relacionamento com pessoas do meio musical, do meio
artístico, e que conheceram elas nesse meio, mas que ao mesmo tempo não
permitiam que mulheres alavancassem a carreira pelo machismo”. Outros detalhes da carreira da dupla, Maikel conheceu pela
ligação que criou com Marilene e Meire após as ligações da adolescência. A
aproximação foi tanta que após elas serem madrinhas do casamento de Maikel,
pediram que, em 2007, ele escrevesse um livro sobre suas carreiras. De fã a amigo da família, de pesquisador da música caipira a
escritor, Maikel reuniu um acervo equivalente a dois volumes da Barsa com
recortes de jornais – fora fotografias e discos –, os quais analisou ouviu,
comparou e descreveu na obra lançada em maio, em Curitiba – cidade para a qual
se mudou em 1997 –, e hoje, em Chapecó.
Maikel com as cantoras, sua avó paterna Emirita Monteiro e a vó materna Agnese
Livro
A obra conta a trajetória das irmãs até os 70 anos de carreira,
completados este ano – maior marco para o gênero e nunca conquistado por uma
dupla masculina em atuação. No primeiro esboço, Maikel se deteve a contar três histórias: A
de Marilene, a de Meire, e a das irmãs Galvão. Mas a dupla pediu que as vidas
pessoais fossem sacadas do livro e que o foco fosse a carreira. Maikel não pensa em lançar uma obra com esses detalhes confiados
a ele e que foram censurados. Diz, com zelo, que não trairia a confiança das
amigas, que hoje chegam a Chapecó para acompanhar o lançamento às 15h no Shopping
Pátio Chapecó. A obra, editada pela InVerso, custará R$ 50. Depois dela, Maikel
irá se preparar para encerrar um novo projeto: uma análise da história da
música caipira do disco ao mp3. É que a fixação de criança pelo estudo dos acordes da viola nunca
lhe saiu e compartilhar estas memórias, diz Maikel, ajuda a manter vivo aquilo
que o Brasil tem de mais genuíno. “A música caipira não é uma música comercial.
E não é, porque ela sai de dentro. Tem a mescla da chegada dos portugueses e
negros nos instrumentos e uma fala simples. Não há como não ouvir e não lembrar
De uma infância feliz ou um grande amor”
Maikel é filho de Odete e Jorge Monteiro parentes do lado da minha mãe Ercilia.
Cesar Antonio Berger Parabéns Maikel Monteiro,
felicidades na tua jornada, tudo de bom, gostaria muito de estar ai mas, não
foi possível. Vou reproduzir a matéria que saiu no jornal aqui para o meu blog
do pimentinha http://leiaopimentinha.blogspot.com
LEIAOPIMENTINHA.BLOGSPOT.COM
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· 14 h
Maikel Monteiro Cesar Antonio Berger, obrigado por compartilhar a matéria em
seu blog, infelizmente você não pode estar, mas o tio e a tia, junto com o Gui
se fizeram presentes e foi muito emocionante estar junto dos meus. Abraços
capa do Jornal Voz do Oeste
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